GRÁVIDA PODE TOMAR CHÁS?

A história das plantas medicinais faz parte da evolução humana. O homem, já usava as plantas ora como remédio, ora como alimento, e essa experiência tiveram sucessos e fracassos, pois algumas vezes havia a cura e em outras a morte ou a produção de efeitos colaterais severos.1

No século XIX, com o avanço na área da Química foi possível a extração dos princípios ativos das planas, dando origem a Fitoterapia, uma ciência que emprega o uso das diversas partes das plantas como raízes, cascas, folhas, frutos e sementes no tratamento de doenças.2

Os fitoterápicos se apresentam de várias formas farmacêuticas, dentre as quais estão: infusão, decocção, extrato, tintura e alcoólica. Na forma de chás as formas as mais comuns são a infusão e decocção. Na forma de extrato, os fitoterápicos podem se apresentar como cápsula, sachês, balas de goma, chocolate e outros. As tinturas são preparações líquidas alcoólica ou hidroalcoólica, já a alcoólica é preparada por maceração com álcool etílico.

Atualmente, a fitoterapia tem adeptos em todo o mundo e sua utilização é cada vez mais adotada pelos profissionais de saúde e também por pessoas que procuram a fitoterapia como uma alternativa de tratamento das doenças.3

No público materno não é diferente, visto que muitas gestantes encontram nas ervas medicinais uma forma de atenuar sintomas como náuseas, vômitos, constipação, azia, gripes e resfriados e etc., por acreditar que essas substâncias não causam problemas a saúde delas ou do bebê. Na maioria dos casos, a utilização de plantas medicinais é uma das únicas formas de tratamento, em vista do baixo poder socioeconômico da população.5

Na gestação, por exigir cuidados especiais, o uso de fitoterápicos deve ser utilizado com cautela, pois é período por ser marcado pelo rápido desenvolvimento e divisão celular do embrião, alguns compostos presentes nos chás, pode prejudicar o crescimento fetal, podendo até levar a desfechos desfavoráveis na gestação como o aborto. 6

A recomendação geral é no sentido de que as gestantes evitam o uso de todos os tipos plantas medicinais, por ocasião dos efeitos colaterais que podem causar a gestante e ao feto.

Segundo a Resolução N. 1757 da Secretaria do Estado de Saúde do Rio de Janeiro, alguns chás não são recomendados durantes a gestação, pelos seus efeitos no feto, como:

Camomila (Matricaria recutita): ação emenagoga (sangramento), relaxante do útero;

Melissa (Melissa officinalis): ação emenagoga e pode causar alterações hormonais;

Hortelã (Mentha piperita L.): ação teratogênica (malformações no embrião);

Funcho (Foeniculum vulgore ): ação emenagoga e abortiva;

Erva doce (Pimpinela anisium): ação emenagoga.

No entanto, alguns estudos mostraram segurança no uso do Zingiber officinale, e Vaccinium macrocarpon durante a gestação.

O genbibre ( Zingiber officinale) é comumente consumido no primeiro trimestre para reduzir as náuseas e vômitos. A melhora dos sintomas ocorre devido ao seu ativo 6-gingerol que aumenta a motilidade do trato gastrointestinal.7-8 Apesar de ser seguro, o seu uso durante a gestação, alguns estudos relataram efeitos como parto prematuro, diminuição do perímetro cefálico neonatal ao nascer9, sangramento vaginal em razão de sua possível inibição da atividade da tromboxano sintase. 10-11

Vacciniu macrocarpon, conhecido como cranberry, há décadas é utilizado para a prevenção e tratamento de infecção do trato urinário, uma doença prevalente entre as gestantes. 

O cranberry, por ser rico em proantocianidinas (PAC) do tipo A, um tipo de composto fenólico da classe dos flavan-3-óis, estudos sugerem que a PAC ajuda na prevenção de infecção no trato urinário, principalmente, em mulheres com histórico de recorrências, pois esse substância interfere na aderência da E. coli às células que revestem o trato urinário e a bexiga, aumentando a probabilidade de serem eliminadas durante a micção, prevenindo assim a colonização bacteriana.12

Na gestação, o uso do cranberry mostrou-se seguro, sem nenhum risco aumentado para malformações congênitas, para o aumento de natimorto/morte neonatal, baixo peso ao nascer, pequeno pra idade gestacional, parto prematuro, baixo índice de Apgar, ou infecções neonatais ou sangramento vaginal materno no início da gravidez. Mas, o seu uso após a 17ª sementa gestacional foi relacionado a sangramento vaginal.13

Assim, apesar de ser seguro o uso de alguns tipos de fitoterápico na gestação, é preciso ter cautela, para não resulta em desfechos desfavoráveis para mãe e para o bebê. Sendo, portanto, importante o acompanhamento nutricional durante todo o período gestacional, pois o nutricionista é o profissional mais habilitado para promover as orientações necessárias para garantir uma gestação saudável e um acrescimento adequado do bebê.

Referências Bibliográficas

1- DORT EJ. Introdução. In: Escala rura: especial de plantas redicinais. 1998; 1(41):1-62.

2- REZENDE, H.A; COCCO, M.I.M. A utilização de fitoterapia no cotidiano de uma população rural, Rev. Esc. Enferm, USP, v. 36, n.3, p.282-288, 2002.

3- KURIYAN R. et al.Effect of caralluma fimriata extract on apetite, food inteake and anthropometry in adult indian men and women. Appetit, 2006; 48:338-343.

4- GORRIL, L. E. et Al. Risco das plantas medicinais na gestação: uma revisão dos dados de acesso livre em língua portuguesa. Arq. Cienc. Saúde UNIPAR, Umuarama, v. 20, n. 1, p, 67-72, jan./abr. 2016

5- MAIA, C. L. A. Benefícios E Malefícios Relacionados Ao Uso Empírico De Plantas Medicinais Por Gestantes: Uma Revisão Da Literatura. 2019. 49 f. TCC (Graduação) – Curso de Farmácia, Centro de Educação e Saúde, Universidade Federal de Campina Grande, Cuité, 2019. 

6-. FAKEYE TO, et Al. Attitude and use of herbal medicines among pregnant women in Nigeria. BMC Complement Altern Med. 2009;9:53. [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar]

7-BROUSSARD CS, et al. Herbal use before and during pregnancy. Am J Obstet Gynecol. 2010;202(443):e1–6. [PubMed] [Google Scholar] [Ref list]

8-  MILLS E. et al. Herbal Medicines in Pregnancy and Lactation. [Google Scholar] [Ref list]

9 – TRABECE L., et al. “Natural” relief of pregnancy-related symptoms and neonatal outcomes: above all do no harm. J Ethnopharmacol. 2015;174:396402. [PubMed] [Google Scholar] [Ref list]

10. BACKON J. et al. In preventing nausea and vomiting of pregnancy; a caveat due to its thromboxane synthetase activity and effect on testosterone binding. Eur J Obstet Gynecol Reprod Biol. 1991;42:163–4. [PubMed] [Google Scholar] [Ref list]

11 MARX W. et al. The Effect of Ginger (Zingiber officinale) on Platelet Aggregation: A Systematic Literature Review. PLoS One. 2015;10:e0141119. [PMC free article] [PubMed] [Google Scholar] [Ref list]

12 WALLER, T. A. et al. Urinary Tract Infection Antibiotic Resistance in the United States. Primary Care: Clinics in Office Practice. Volume 45, Issue 3, September 2018, Pages 455-466.

13- HEITMANN K. et al. Pregnancy outcome after use of cranberry in pregnancy–the Norwegian Mother and Child Cohort Study. BMC Complement Altern Med. 2013 Dec 7;13:345. doi: 10.1186/1472-6882-13-345. PMID: 24314317; PMCID: PMC3924191

Como referenciar esse post?

SCORSAFAVA, Claudia, T. Grávida pode tomar chás?. 

×