A gestação é um período em que ocorrem grandes transformações no organismo da mulher, especialmente, por que as demandas nutricionais estão aumentadas, sendo necessário ajustes na alimentação de modo a oferecer suprimento nutricional adequado para mãe e bebê.
Manter uma alimentação equilibrada antes e durante a gravidez além garantir a saúde da mãe e o desenvolvimento adequado do feto, é uma excelente forma de promover efeitos na saúde da criança, que se prolongam até a fase adulta1. Também é uma forma de se evitar doenças como obesidade, diabetes, doenças cardiovasculares e outras na vida futura desse bêbe2-3.
A adoção de hábitos alimentares saudáveis na gravidez tem um papel fundamental nas preferências alimentares, quando da introdução alimentar complementar do bebê, pois as preferências alimentares têm início na fase intrauterina. O feto, por meio da inalação e deglutição do líquido amniótico passa a reconhecer os compostos voláteis da alimentação materna e esse reconhecimento precoce de sabores facilita a aceitação dos mesmos quando do início da alimentação complementar4.
Ao longo dos anos a população brasileira de uma forma geral vêm mudando seus hábitos alimentares. Segundo dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2008/ 2009), houve um aumento na ingestão de alimentos com alta densidade energética (ricos em açúcares e gorduras), ultraprocessados (refrigerantes, biscoitos, salgadinhos), bem como redução na ingestão de frutas, verduras, fibras e carboidratos e proteínas de boa qualidade5.
Com a escala de produção voltada para atender à crescente demanda populacional urbana, o foco passou a ser a quantidade ofertada em detrimento da qualidade do alimento. Diante desse objetivo, houve um aumento no uso de aditivos, produtos químicos, pesticidas e agrotóxicos na produção alimentícia resultando em empobrecimento do solo, redução do teor nutricional do alimento, fazendo com que o alimento perdesse de 20 a 60% de seus nutrientes6.
A suplementação de vitaminas e minerais na gestação é uma questão pacificada pelo Conselho de Alimentação e Nutrição do Instituto de Medicina (IOM), ou seja, há necessidade de suplementação na gravidez, em razão das gestantes terem um risco aumentado a múltiplas deficiências, devido ao aumento das necessidades do feto em crescimento, da placenta e dos tecidos maternos.
Estudos comprovaram, que com a adoção da suplementação durante a gestação, é possível promover o crescimento e o desenvolvimento adequados do feto, prevenir o parto prematuro, a cegueira noturna, defeitos congênitos no tubo neural, anemias e outras doenças7.
É importante destacar que a suplementação de micronutriente durante a gestação deve ser realizada como forma de complementação da alimentação materna.
Outra questão ao adotar a suplementação, é observar a biodisponibilidade dos micronutrientes presentes em alguns polivitamínicos disponíveis no mercado, visto que algumas formas químicas presentes são menos absorvidas pelo organismo da grávida, assim como é importante escolher polivitamínicos que não contenham nos seus ingredientes substâncias químicas sintéticas (corantes sintéticos, parabenos, flavorizantes artificiais) e outros xenobióticos, que podem trazer prejuízos à saúde da gestante.
Assim, a suplementação de vitaminas e minerais é necessária durante toda a gestação, mas deve ser adotada como complementação da alimentação da gestante e prescrita por um profissional de saúde, médico ou nutricionista.
Referências Bibliográficas
1 -Programa Nacional para a Promoção da Alimentação Saudável, et al., Alimentação Saudável dos 0 aos 6 anos – Linhas De Orientação Para Profissionais E Educadores, D.a.o.-G.d. Saúde, Editor. 2019, Ministério da Saúde. Direção-Geral da Saúde.
2 Koletzko, B., et al., Early nutrition programming of long-term health. Proc Nutr Soc, 2012. 71(3): p. 371-8.
3Koletzko, B., et al., Long-Term Health Impact of Early Nutrition: The Power of Programming. Ann Nutr Metab, 2017. 70(3): p. 161-169.
4 Raymond. J; Morrow. K, Krause and Mahan’s Food & the Nutrition Care Process. 15 th ed. 2020: Elsevier Health Sciences 1216.
5 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pesquisa de orçamentos familiares 2008-2009: avaliação nutricional da disponibilidade de alimentos no Brasil. Rio de Janeiro; 2010.
6 Cruz, F.; Schneider, S. (2010). Qualidade dos Alimentos, escala de produção e valorização de produtos tradicionais. Rev.Bras.de Agroecologia. 5(2), pp. 22-38.
7HAIDER, B.A.; BHUTTA, Z.A. Multiple-micronutrient supplementation for women during pregnancy. Cochrane Database Syst Rev., 13;4:CD004905,2017.
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SCORSAFAVA, Claudia, T. Gestante deve suplementar vitaminas e minerais?